Sopa de nabo


Acordei pra mais uma semana de aulas. Ainda com os olhos a habituarem-se à claridade que entrava pelos buraquinhos da persiana, adivinhei, pelo barulho, um dia cinzento e chuvoso. Onde está o sol, onde estão as flores a anunciar a Primavera? O mundo anda mesmo ao contrário!
Voltei a adormecer… desta vez na sala de aula, ao ouvir a professora a ler o programa detalhado da cadeira. Mas valeu a pena ir à aula, fiquei a saber que afinal vamos ter férias! Uns dias longe destes cromos todos da minha turma!
Penso na Luny que, fanhosa e com dores de garganta, teve a desculpa perfeita pra ficar a manhã toda no sofá, na companhia de um cobertor quentinho.
De regresso a casa, em amena cavaqueira com a Bibendum ela diz-me que para o almoço vai fazer sopa de nabo.
“Sopa de nabo? Não gosto mesmo nada de nabos”, digo-lhe eu.
“Mas não se vêem”, respondeu-me ela.
Fiquei a pensar em nabos. Não se vêem? Mas eu vejo tantos! O que não falta aí são nabos! Bem podemos procurar um produto nacional, como um repolho, uma penca, ou um brócolo, ou mesmo um produto estrangeiro, como um alho francês, mas o que há mais no mercado são nabos.
Pode dizer-se que a variedade está mais do lado da procura. Há as que gostam mesmo que lhes caia na sopa um nabo (ou pelo menos parece); há as que preferem comê-los do que não comer nada, ou seja, sabem que é nabo, fecham os olhos, tapam o nariz e lá vai nabo pela goela abaixo; há as que não são nada esquisitas, vai qualquer tipo de legume, incluindo o belo do nabo; há as que já comeram mas começam a enjoar o sabor e a querer algo diferente; e depois há as que, tal como eu, não gostam mesmo deles.
Claro que só os compra e come quem quer, mas por vezes, quem não gosta come por engano!
No início não os vemos, como diz a Bibendum, pois estão disfarçados no meio de outros legumes. Mas depois de o comer, pelo sabor amargo que fica na boca… fica-se com a certeza de que é nabo.




Pérola Negra

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