Meu fado

Ontem de tarde encontrei uma pessoa querida, que já não via há algum tempo. Foi mais ou menos isto:
Ele: Mon Amour!! Anda cá! Ah! Pérola, mon amour!!!
Eu: Oláaa! Incrível, quando ia pro café passei por aqui e lembrei-me de ti! Parecia que estava a adivinhar que este meu senhor vinha cá hoje...
Ele (para uma amiga comum): Ai o que eu gosto desta mulher! Ela sabe que eu sou apaixonado por ela... E aquele dia em França? Eu sempre a achei fantástica e ela em França aparece-me com uma saia toda rodada, tira os sapatos e fica descalça na relva, parecia uma cena tirada de um filme... ainda por cima senta-se no chão a tocar viola! Um homem perde a cabeça! Eu fiquei maluco!!
Só me ria a relembrar aquele dia à medida que ele ia contando os pormenores, com o humor e a teatralidade que lhe são tão característicos.
Ele: Eu naquela noite pedi-a em casamento! Fui ao pai dela pedir a mão e tudo! E só não fui pedir também à mãe porque me seguraram!
Ele, é um homem diferente, um músico invulgar, toca viola como ninguém. Acompanha o fado com tamanha alma que os dedos dele parecem fazer chorar a viola. Por ser tão diferente (alguns acham que ele é tolo!) é que o acho tão interessante. As nossas conversas são sempre longas, cheias de tudo. Gosto imenso de falar com ele. Ele tem idade pra ser meu pai (aliás é mais velho do que o meu pai!) e isso é que torna tudo tão engraçado. Ontem vim pra casa a pensar no que ele me disse há um tempo... "Pérola, eu acho que tu não vais ter muita sorte... És demasiado inteligente, sincera, forte (...) És muito tudo! Tu entras nas pessoas. E os homens têm medo disso. Assustam-se e muitos vão fugir. Vai ser dífícil encontrar um à tua altura".
Nunca mais esqueci o dia em que ele me "cantou" aquele fado.
O meu fado.

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