Odores

Fui acordada pela certeza. As minhas narinas dilataram com a chegada do habitual odor. Deixei-me estar de olhos fechados, como sempre faço. Fiz de conta, mais uma vez, que não vi que ele me deixava, como todos os dias deixa, um ramo de flores na minha almofada. Fiz de conta que não vi. Fiz de conta que não senti. A verdade é que eu senti, e sinto, o seu mais subtil gesto. Mesmo que venha em pézinhos de lã, mesmo que venha no mais profundo silêncio. Sinto tudo... à flor da pele.
Tenho realmente que me preparar porque um dia as flores vão acabar nesse campo que, para já, está carregado de cores. Tenho que me preparar porque um dia não vou mais poder acordar com a certeza de que as flores vão estar lá, só para mim. Um dia este odor vai dissipar-se no ar. Porque os odores que o vento trás, o vento leva. (Não fui eu que inventei)

1 Vizinho(s) mais amarelo(s):

m.a.r.o. disse...

O inventor de semelhante frase sentirá certamente um orgulho enorme por ser uma pequena parte deste teu post. Terá esquecido no entanto, que o vento só traz os odores que as flores libertam, e terá esquecido ainda que as flores não morrem, descansam e depois renascem! E tudo isto porque não existirá pior sorte, que transportar um odor que criou habituação e já não se sente.