Do outro lado

Consigo ouvi-la,
senti-la,
do outro lado.
Apenas uma parede nos separa...
Chora dia e noite.
É um lamento profundo,
um choro que vai de soluços mais pequenos
a gritos de dor.
Quase que ouço as suas lágrimas,
uma a uma,
a molhar a sua almofada,
ou a formar uma poça em cima da mesa onde,
sem forças,
deixa cair a cabeça.
Quase que ouço ela a partir-se aos pedaços,
a estilhaçar-se no chão.
É quando está sozinha
que mais noto o seu desespero.
Caminha de um lado para o outro,
enjaulada entre quatro paredes,
enjaulada em si mesma,
percorre os cantos da casa,
tão vazios quanto ela.
Os barulhos,
que a parede não me impede de ouvir,
sossegam de vez em quando.
Talvez adormeça.
Talvez não tenha mais lágrimas,
penso eu.
Mas voltam os soluços...
Os gemidos.
Aquele pranto.
Parece que está em luta,
mas eu sei que não está ninguém em casa,
vi todos a sair.
Luta consigo própria...
A pior das lutas!
Parece que a estão
a cortar ao meio...
Chora dia e noite,
mesmo quando seca os seus olhos
para, ainda que raramente,
sair de casa,
mesmo quando parece estar calma,
mesmo estando a dormir,
mesmo quando tenta esconder
dos outros o que sente.
Sei por que chora...
Sei por que sofre.
Por que está em luta.
Mas não a posso ajudar.
Talvez ninguém possa.
Talvez nada possa ajudar.
Nem o tempo...

1 Vizinho(s) mais amarelo(s):

Bibendum disse...

WHOOOOO ....Intense.