A rapariga das lágrimas

Fui almoçar ao sítio habitual, ao "jardim redondo". Gosto de aproveitar para me sentir livre depois das horas de clausura. Como sempre, procurei uma sombra e sentei-me. Pousei o meu livro no colo. Antes de comer olhei à minha volta, observei as pessoas. Vejo sempre coisas engraçadas, pessoas muito diferentes, tento adivilhar-lhes a vida.
Perto de mim passou uma rapariga, sozinha, notava-se que vinha mesmo muito sozinha. Os bancos estavam todos ocupados, sentou-se no chão, encostada a uma árvore que desenhava uma roda de sombra na relva. Vestia umas calças de ganga, uma túnica preta, umas sandálias douradas a combinar com os brincos. Devia ter mais ou menos a minha idade. Aquela rapariga prendeu a minha atenção. Ela não estava bem... O corpo inerte, a cabeça pra trás, apoiada no tronco... Eis que umas lágrimas começaram a escorrer pela cara dela. Primeiro pôs a mão à frente da cara, tentando tapar os olhos já escondidos pelos óculos de sol, para que não a vissem chorar. As pessoas continuavam a passar sem dar conta. Só eu a via. Chorou em silêncio. E quando o choro ficou mais forte, as lágrimas mais grossas, derrotada por aquele momento de tristeza, deixou cair a mão com a qual tapara o rosto e não se importou que olhassem, já nada parecia importar. Entregou-se ao pranto, soluçou.
Eu, quieta e muda, fiquei ali a vê-la de longe. Qual seria o motivo das suas lágrimas? Em quem estaria a pensar? O que a deixou tão triste? Estaria a chorar apenas por ela?
Chorou durante bastante tempo. Tanto que tinha chegado a minha hora de ir embora. Custou-me ir mas lá me levantei. Caminhei apressadamente em direcção à rua. Parei, voltei-me para olhar a árvore. A rapariga continuava lá, sentada, na sombra.
Eu fui embora, a rapariga das lágrimas ficou. Tinha que a deixar para trás...

4 Vizinho(s) mais amarelo(s):

M. disse...

"Eu quero ficar aqui... ao pé de ti, ao pé de ti... eu quero ficar aqui... mas tenho que ir!"

Poetic Girl disse...

Engraçado também não consigo ficar indiferente ao sofrimento alheio, desses desconhecidos que por vezes se cruzam conosco... bjs

Anónimo disse...

O facto de ela ter conseguido chorar dessa nameira ajudou-a muito. :)

Beijinhos

Filipa disse...

acredito que chorar lhe fez bem..
mas é nesses momentos que eu gostava de deixar o perconceito do que as pessoas pensariam e ir la abraça-la... mesmo sendo estranha... axo que as vezes faz falta termos mesmo esse abraço...

so de ler fiquei eu com as lagrimas nos olhos...

beijocas