Cor-de-rosa

Estive a puxar pela cabeça mas não me consigo lembrar em que ano foi. Lembro-me bem de tudo o resto. Ainda vivíamos todos no Bairro Amarelo e estava a chegar o Natal. Nos dias anteriores nós as duas tínhamos conversado muito, tínhamos feito muitas camisolas, como costumávamos dizer! Eu achava que andavas triste... Eu tentava animar-te com as minhas piadas, soltava todo o meu humor (que dizias gostar tanto) pegava em ti ao colo, punha-te às minhas cavalitas (dizias que encaixavas melhor em mim do que no Senhas... que as minhas cavalitas eram as melhores do mundo!!) eu fazia de tudo para te ver sorrir. Ou melhor, para te ver rir às gargalhadas! Ainda consigo ouvir perfeitamente o som delas, mesmo a esta distância de tempo e espaço. Tantos cá cá cás!!!

Juntamos-nos todos para tirar os papeis com o nome do destinatário da nossa prenda de Natal, que daríamos na noite da ceia improvisada. Queria tanto que saísse o teu nome... Lembro-me de o desejar com muita força! Queria que fosses tu porque te queria dar uma coisa especial. Tinhas que ser tu. Tinha que ser nesse ano! Tinha que me sair o teu nome!
Abri o papel e escrito a azul estava o nome de quem iria receber... uma outra cor.


Não sei porque tenho esta necessidade de ver os outros felizes, esta necessidade de fazer os outros sorrir. Quero que olhem para a vida e que a vejam colorida, mesmo que por vezes eu própria a veja tão cinzenta.


O importante da prenda não foi o dinheiro que gastei, não foi a prenda em si, não foi o embrulho que fiz de forma esmerada, não foi o laço que escolhi com todo o carinho. O mais importante foi a mensagem que te escrevi no singelo papel que coloquei junto ao laço.


"Mesmo que a vida nos pareça pintada de tons escuros haverá sempre algo para nos lembrar que a vida pode ser cor-de-rosa."


Quando leres este texto vai ao armário procurar a camisola que te dei nesse ano. Ficávas linda nela! A tua alegria e a sua cor são a combinação perfeita! Veste-a e sente a vida de novo a tingir-se de... cor-de-rosa.