Pérola Negra


Na sexta-feira passada, mal cheguei a casa soube que a minha preta pequenina estava doente. Tive que ir vê-la, até porque uns dias sem ela e sem a irmã, deixam-me cheia de saudades. Nesse fim-de-semana elas, ao contrário do habitual, não deveriam ir para minha casa, pois a minha irmã também estava doente... O melhor era cada uma delas ficar de quarentena em sua casa. Levei-lhe mais uns animas para a colecção dela. Gostava tanto de brincar com os de madeira, da minha mãe (partiu alguns, claro!) que comecei a comprar-lhe uns animais só para ela, para que pudesse brincar à vontade. Não os larga por nada e faz do chão da minha sala, todos os sábados, um verdadeiro jardim zoológico.
Quando entrei no quarto dela fiquei assustada. A minha pulga estava quieta, deitada na cama, completamente prostrada, efeitos da febre, como percebi rápidamente. Mal me viu destapou-se, quis libertar-se dos lençois para vir ter comigo, mas em gestos tão lentos que me deixaram mesmo impressionada. A minha preta que costuma gritar no meio da rua pelo meu nome, correr para mim para se pendurar no meu pescoço e me encher de beijos, aquela pisca que costuma andar a rebolar no chão comigo, que me salta para cima e me enche de cócegas, que só me faz rir com o que diz e que não pára quieta, estava ali como um passarinho ferido na asa. Arrastou-se para o meu colo e aninhou-se nos meus braços. Disse que tinha os olhos a arder e que lhe doia a "baguiga".
Ao embalá-la no meu colo, enquanto lhe mexia nos seus caracois, ao ver aqueles olhos tão escuros, tão lindos, fez-me recordar uns outros olhos que nunca mais esqueci... Por alturas da festa do Senhor de Matosinhos fui lá, com amigos, dar uma volta e ver as barracas. Mais do mesmo, quinquilharias não faltavam lá. Numa das barracas, provavelmente estava a comprar mais uns brincos (mais uns pra colecção!!) reparei que atrás dos donos, bem escuros, claro está, estava um menino pequenino. Ele saiu das pernas dos pais e veio para fora da barraca brincar. Era lindo aquele menino! Meti-me logo com ele, é automático quando vejo uma criança. Ele fugia sempre. Até que desisti, não lhe consegui chegar e fui ter com os meu amigos que já me estavam a chamar. Já estava eu de costas e sinto algo a puxar as minhas calças. Era ele, acho que não queria que eu fosse embora... Pus-me ao nível dele e aquele menino agarrou-se a mim duma maneira, tão intensamente, ficou tudo a ver aquela cena. Foi um abraço incrível. Estivemos assim a olhar um para o outro durante algum tempo, sem nos largarmos. Veio o pai dele, veio a mãe, vieram os das barracas vizinhas e ninguém mo conseguia tirar dos braços. Ele não me largava!! Acho que aquele menino queria vir comigo embora e acreditem que eu o trazia mesmo. Nunca mais vi aquele menino. Mas também nunca mais esqueci os seus olhos.
Ao menos os olhos da minha pérola negra mais pequena, esses, eu posso vê-los sempre que quiser.

2 Vizinho(s) mais amarelo(s):

Fuschia disse...

As melhoras para a pulguita ;)

Pérola Negra disse...

Fuschia: Agora a pulga grande também está doente... Espero que melhorem rápido. Obrigada pela simpatia!
Beijinhos