Para não esquecer


Descobrimos que sempre que estamos abraçados começamos a dançar. É inevitável o balançar dos nossos corpos quando estão juntos, seja em que sítio for, esteja quem estiver. O ritmo é sempre o mesmo, é lento, numa música que só os dois ouvimos e que só nós conseguimos sentir.
Quero lembrar para sempre aquela noite... Começou a chover e ele disse-me que tinha chegado o momento da nossa dança. Escolheu as musicas certas enquanto eu tirava o casaco, naquela noite fria e me deixava apenas com o meu top verde. Era madrugada, não havia ali mais ninguém, só nós. Tirou-me do carro e com a delicadeza de quem nasceu mesmo para aquilo, convidou-me para dançar.
Senti as suas mãos nas minhas costas e ele sentiu as minhas no seu pescoço. Fechei os olhos, como sempre faço e deixei-me ir. Sinto-me livre quando estou presa ali nas mãos dele. Não sei para onde vou mas, deixo-me ser conduzida. Ele brincou com as minhas ancas, inventou passos e ritmos que eu parecia saber de cor. O encaixe perfeito, o aperto forte, para nunca mais largar.
Lembro-me da sensação de sentir a chuva cair em pingos no meu cabelo, de sentir as gotas frias cairem nos meus ombros e no meu peito desnudados, gotas frias no meu corpo quente. Ele parecia querer levar os meus contornos, as minhas curvas, nas mãos dele, para não esquecer aquela noite. Dançamos muito tempo, como se não houvesse amanhã. Sabiamos que não haveria, pelo menos por um tempo...
A chuva ficou cada vez mais forte, acompanhando o ritmo daquela dança de desejo.
Uma noite para eu não esquecer.


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