Caixa de Pandora



Uma caixa de ouro repousava no colo dela. Estava cheia de pó, mas mesmo assim, cintilava de forma estranha, contrastando com o brilho no olhar que trazia. Olhar vago e ausente. Ela segurava a caixa pela última vez, sabendo que esta não se voltaria a abrir. Uma preciosidade néscia que não continha mais do que uma corja de esperanças, desejos e expectativas. Não a podia deitar fora, porque isso implicaria danificar a perfeição daqueles momentos. Momentos perfeitos mas efémeros, breves, únicos que deixaram uma eterna saudade! Por isso, a tinha guardado no sótão do passado. No meio de memórias, lembranças e livros velhos. Livros inacabados cheios de páginas soltas e rasgadas. Ela sabia que, inevitavelmente, o passado, mais cedo ou mais tarde, voltaria a assombrar e atemorizar. O passado, o antigo, o velho, o desgastado, o findo… Por isso tinha chegado a hora de a selar.
Ao olhar em redor para as páginas soltas espalhadas pelo chão, perguntava-se: Se o seu passado fosse um daqueles livros, que titulo teria?

Páginas e páginas… Folhas inteiras de lágrimas, sorrisos, abraços, olhares, suspiros, lugares. Encontros e desencontros, abarrotados de emoções e sensações. Linhas, palavras e letras que subliminarmente foram escrevendo de forma inusitada o seu presente. Recolheu as páginas soltas e irreversivelmente guardou-as... uma a uma dentro da caixa. Selando-a para sempre.

... E pelo tempo, assim, resta esperar!



a Bibendum

1 Vizinho(s) mais amarelo(s):

Margaret disse...

e essas páginas soltas não poderiam fazer um livro? entre qualquer retalho pode ser construída uma história... e até um padrão! se reconstruíres os pedaços, vais ver que dá uma históri só... nada acontce separado do antes e do depois.