Bulha

Estivemos mesmo pra desistir. A fila pra entrar no autocarro (se é que se pode chamar fila a um grupo de desordeiros, mal educados e estúpidos que só te empurram) era mesmo muito grande. Todos os anos é a mesma coisa! E todos os anos, por altura da recepção ao caloiro, lá estamos nós na paragem, com vontade de ir até “Espanha” beber uns copos e abanar o capacete.
Tanto tempo de espera, como quem espera pra entrar no consultório do médico, tantos apertos e empurrões só pra ver o Quim Barreiros?! Mas sabendo que já lá estava algum pessoal valia a pena resistir até onde a paciência tinha limite. E afinal de contas, nunca se sabe o que a noite nos reserva…
Veio mais um. Era neste! Tínhamos mesmo que entrar neste autocarro ou baixávamos os braços, derrotadas, e íamos era vestir o pijama e aterrar no sofá. A Luny e a Bibendum conseguiram entrar, mas eu fiquei à porta (como os outros!). Como que a lutar por um direito absoluto a Luny berrou, reclamou, e tentou puxar-me a toda a força lá pra dentro! Eu não a queria ver ao estalo com os cromos que teimavam em entrar à minha frente então disse-lhe pra guardar o lugar dela que eu lá ia ter a Guimarães.
Sentadas, já em viagem, mentalmente a fazer planos pra noite, nem queríamos acreditar que tínhamos conseguido… estávamos todas no mesmo autocarro!
Feita a ronda ao recinto, inspeccionados todos os cantos e esquinas do pavilhão, confirmamos que estavam lá quase todos os Micos. Ficamos num local estratégico pra poder controlar todos os passos do grupo do Piu, Dr. L e companhia.
O Chinês, a passear por perto, quando nos viu bem tentou fugir com o rabinho entre as pernas, mas eu apanhei-o! Aproveitei a ocasião, e a ausência da Bibendum, pra apertar com ele, ou melhor com quase metade dele, pois encolhera devido a uma intoxicação alimentar. O meu estômago e coração de amiga já não aguentavam mais. Disse-lhe pra ele tocar na minha campainha, quando fosse pra casa do amigo Monstro Marinho, meu vizinho, pra termos uma conversa séria. Até hoje só tocam aqui os meus amigos e o carteiro! (Salvo seja!!!)
O Distorcido passou mesmo ao meu lado. Abordei-o, a pergunta impunha-se: “Onde estão os teus amigos Rissol e Ice Cream?” Ir ter com alguém apenas pra perguntar pelos amigos que são giros e bons como o milho é daquelas coisas que eu não gosto. Levei a resposta merecida “O Ice está por aí com a namorada”. Mas para meu espanto ele alimentou a conversa.
Estava eu a pensar com os meus botões que afinal o Ice namorava e que ela devia ser uma totó, quando apareceu o Zé Tunel, com quem eu já tinha estado a falar. Sabe-se lá o que lhe passou pela cabeça, dá um encontrão ao Distorcido afastando-o de mim. O que era isto?! Era preciso tirar senha pra falar comigo? Começam a fazer peito, como galos na capoeira, típica atitude de macho, vieram primeiro uns “chega pra lá” e depois lá começaram ao soco! Tentei meter-me no meio, tentei separa-los, tentei segurar pelo menos num, mas naquele momento eles nem me viam nem me ouviam. Desisti, até porque não queria levar por tabela e também tinha uma cerveja na mão, era chato desperdiça-la! Assisti, na primeira fila, a uma luta que mais parecia em câmara lenta. O Distorcido ganhou, o Zé Tunel ficou todo inchado e com um olho à Belenenses!
Dois homens à bulha por minha causa! O meu ego ficou lá em cima!
Mas se fossem homens tipo Jack e Sawyer do Lost, ou o Dr. McDreamy e McSteamy da Anatomia de Grey, ou os irmãos Sam e Dean do Sobrenatural… Agora estes dois? Seria dar pérolas a porcos.

Pérola Negra